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O Menino e o Grão de Milho

Era uma vez um casal sem filhos. Desejavam demais ter seus filhinhos.

Todos os dias à tardinha lá na aldeia, as mães chamavam seus filhos. - “Ó João... Ó Maria...” e as crianças voltavam para casa conversando alegremente.

- “Ai quem me dera ter um filho, ainda que fosse do tamanho de um grão de milho!”

Seu marido do canto da sala batia a cabeça concordando.

Não é que o destino lhes fez a vontade?

Nasceu então um menino um pouco maior que um grão de milho, ou um caroço de ervilha, ou um botão de flor...

Ficaram tão felizes... tão felizes....

O tempo passava e o menino cresceu. Cresceu? Maneira de dizer, do tamanho de um grão de ervilha ficou do tamanho da vagem da ervilha. Seus pais bastante orgulhosos comentavam. “Não é muito grande nosso menino, mas é tão lindo!”

Nosso herói vivia muito bem. Seu quarto era uma gaveta, dormia dentro de um sapato, seu lençol era o lenço do pai, seu guarda roupa uma caixa de fósforos. Tomava banho numa xícara, sua mesa era um livro, comia com palitos, seu prato era uma casca de noz e seu copo o dedal da mãe.

Quando o almoço era feijão com arroz bastava um grão de cada. Sua merenda era uma rodela de cenoura, tinha que dividir um gomo de laranja e não conseguia comer um morango sozinho.

Convivia pouco com crianças da sua idade, tinha medo das suas brincadeiras embora desejasse muito ter amigos. Todos os dias ia com o pai para o curral, abraçava o chifre do boi e ajudava o pai levando o gado para pastagem.

Um dia Grão de Milho, como era carinhosamente chamado, disse aos pais. ”Queridos papai e mamãe eu quero correr o mundo, por isso vou embora” Sua mãe tentou de todo jeito dissuadi-lo de tal aventura. Dizia: “filhinho você é tão pequenino e o mundo é tão grande...”

Passou então pela aldeia um circo, Grão de Milho mostrou desejo de acompanhá-los, seus pais então o entregaram ao dono de circo e fizeram mil recomendações.

O velho disse: “Iremos com ele nas feiras livres e em todas as cidades, tomaremos conta dele e no próximo verão ele estará de volta”.

 

Com muitas recomendações e lágrimas seus pais o deixaram partir. E foram muitas as aventuras, um dia uma forte ventania arrancou Miudinho seu nome no circo, do chapéu do velho e jogou dentro de uma poça de lama quase morreu afogado.

De outra feita, estava dormindo num matinho, de repente uma vaca espirrou bem na direção da moita onde Miudinho dormia escondido, foi parar do outro lado da estrada.

Foi comido por uma raposa magricela pensando que era um inseto, felizmente a raposa estava gripada e espirrou com tanta força que botou Miudinho pra fora. Morto de cansado se escondeu dentro de uma bolsa para dormir sossegado, mas uns ladrões entraram na tenda do circo e roubaram a bolsa, novamente Miudinho ficou em perigo. À noite antes que os ladrões descobrissem que ele estava dentro da bolsa. Miudinho saiu e escondeu-se numa teia de aranha. Ai os ladrões começaram a dividir o que tinham roubado e diziam. – “Esse tanto é para fulano, e esse é para beltrano”. Sicrano reclamava – “Cadê o meu dinheiro?” Nisso Miudinho resolveu se meter na conversa. – “Quem parte e reparte fica com a menor parte”.

“Quem falou?” - assustaram-se. Procuraram em todo o esconderijo. De quem poderia ser aquela voz! Nada encontraram. Miudinho querendo brincar escondeu-se mais ainda na teia e disse: “Quem parte e reparte fica com a menor parte” Os ladrões se desesperaram e saíram correndo deixando para trás um burrinho. Miudinho pulou na orelha do burrinho e disse: “Corre burrinho, aprendi as lições do mundo e agora temos um longo caminho”.

Miudinho voltou para casa, sua casa sem dúvida era o melhor lugar do mundo. Chegando encontrou seus pais que já não choravam mais, pelo contrário riam de alegria. Toda a aldeia ficou em festa e foram felizes para sempre.

“Entrou por uma porta, saiu pela outra, Rei meu Senhor que me conte outra.”

Você Sabia?

Histórias portuguesas em geral falam da comunidade, dos costumes, da escala de valores e da ética e também dos costumes e da organização do saber da sociedade.

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